segunda-feira, maio 22, 2006

Sábado

Acabada a confraternizaçao de fim de ano na fabrica, juntaram todo o material, e carregaram a van.

Fim do serviço, nosso Herói dispensou o ajudante e foi procurar a gostosa da secretaria que ele tinha passado a tarde toda visando:

- E ai, beleza? Você é a secretaria do pai Rafa, né? Eu sou amigo de infância dele…

Duas ou três abobrinhas depois, sai ele, peito estufado, com a Gostosaria ao lad, todo orgulhoso com cara de « é hoje ». Passou pela mesa onde o Rafa tomava uma ultima gelada com o pai-trao e dois clientes e deu aquela olhada em direçao a à mesa. Sem dizer nada, disse tudo. Entraram na Saveiro velha e tocaram pro King pizzas jogando uma conversinha barata pela janeja.

Parou a Saveiro na frente do King e deu aquela buzinada tradicional, pro Waldemar já ir preparando uma mesinha especial. Apresentou a gostosaria pra todo mundo quase como se fosse sua namorada:

- Waldemar, manda uma garrafa de Red Leibo um balde de gelo e um maço de Gudan de canela. Quero que se foda, hoje eu vo encher a cara…


Serviu uma dose pra ele mesmo primeiro e quando ia servindo a da « namorada » viu com o rabo do olho um Vectra parar na frente da birosca (na época ainda era uma birosca) :

- Filho da puta… !
- Quem ?- Perguntou a Gostosaria.


Pan, pan ram pan (Buzina!!!!).. Era o Rafa. O filho do dono. O quase patrão da porra da fabrica. A Gostosaria abriu aquele sorriso, pediu licença e foi la cuidar de assuntos profissionais. Botou a cara dentro da janela do Vectra e depois de dez segundos tava decidido :

- Herói, foi mal. Vou ter que ir com a Rafa. Aconteceu um « probleminha » na « fabrica » e eu vou ter que ir « resolver » isso com ele (sábado a noite com o filho do dono.) – e foi entrando no Vectra

De novo. Mais uma vez tava ele, uma garrafa cheia, um maço de Gudan, sábado a noite no King. – Que se foda, eu já tinha dito que ia encher a cara, vou cumprir. Uma hora, meia garrafa e um quarto de maço de Gudan depois teve aquela brilhante idéia de sempre. Brilhante, não sei, original nem tanto, previsível, com certeza.

- Waldemar, pendura ai e traz a nota preu assinar !

Entrou na Saveiro e tocou pro único lugar onde tinha certeza de encontrar varias mulheres receptivas. Do tipo que se vão embora com outros, por que esses tem mais dinheiro, ele não acharia nada de errado : Amaral Peixoto. Parou do lado da carrocinha, comeu um podrao quente e Red Laibo debaixo do braço atravessou a avenida pra sentar nas escadarias da Assembléia e trocar umas idéias com as colegas. Ofereceu uísque, perguntou o nome, contou suas magoas e esperou compaixão :

- Po, você num faz de graça não ? Já são duas horas da manha. Hoje num vai dar cliente não Eu boto um uísque na sua fita. – Tentou, acreditando que podia dar certo.

- Po, bebe ai, vamo la… hoje voce num vai arrumar cliente nao. Já são 3 horas… vamo la. A gente vai pra um motel maneiro. Eu peco outra garrafa… a gente zoa tudo junto, num motel maneiro.

O pouco dinheiro que ele tinha na carteira ele queria guardar pra pagar um eventual motel. Mas as quatro da manha e completamente bêbado, falou foda-se pela terceira vez naquela noite. Resolveu pagar pelos serviços da moçoila que a essa altura já tava levando fé na conversa de que não ia arrumar cliente e resolveu dar um desconto pro bebum que já tava la há um tempao fazendo companhia.

Entraram juntos na Saveiro e ele tocou pro barreto, pro famoso motel maneiro que ele conhecia. Estampado num cartaz na entrada o preço da espelunca: 6 reais por três horas. Pediu o melhor quarto pro recepcionista que lhe entregou a chave com um pedaço de madeira amarrado com barbante e o numero 7 escrito à mão com tinta preta.

Entraram no quarto e o Herói manda a moçoila pro chuveiro tomar um banho enquanto ele se serve a ultima dose da garrafa que ele tinha matado sozinho. Inevitavelmente, quando a moçoila sai do chuveiro nosso Herói já roncava a 80 decibéis. Acordou com o dia claro, a luz entrando pela cortina vermelha do quarto e a moçoila sentada na cama olhando pra cara dele:

- Me paga ai, que eu quero ir embora.
- Pagar o que ? Eu num comi, não tenho que pagar…
- Tem que pagar sim, num fez nada porque dormiu, bêbado, mas vai ter que pagar pelo tempo que eu perdi.
- Perdeu tempo nada. Tava la no meio da rua sem fazer porra nenhuma. Não passou ninguém que te queria. Num pago porra nenhuma. Num comi…
- Vai pagar sim. Se não você vai ver… já anotei a placa do seu carro. Se não pagar você vai ver.

O Herói ficou com medo e decidiu mudar o discurso :

- Ta bom, mas eu to sem dinheiro aqui. Vamo, entra no carro que eu vou passar num caixa eletrônico pra tirar a sua grana.

Pagou o motel com a única nota de dez que tinha na carteira e entrou na Saveiro com a moçoila que agora já tinha diminuído o tamanho do beiço por acreditar que ia levar algum sem ter tido que trabalhar.

- Olha la, ali tem um caixa automático.
- Num vou pagar porra nenhuma não !
- Mas você disse que ia me pagar.
- Disse, pra você num fazer escândalo no motel do meu camarada. Mas num comi e num vou pagar. Além do mais você é di-menor.
- De menor é o caralho eu tenho 21 anos e se você nao pagar voce vai ver…
- Vou ver o que ? Você é di-menor, eu nao comi e nao vou pagar. Alem do mais eu sou Policia. Vou te levar pra delegacia porque voce é di-menor.
- Que mané policia o que ? Com essa cara ? Com esse carro ? Policia tem Gol ou Voyage num tem Saveiro…

Nisso já estavam de volta na amaral peixoto e o Herói fala foda-se pela ultima vez na noite. Sua blefada final: Parou o carro na frente da DP, mostrou a moçoila sua carteira de filho de militar abriu a porta da Saveiro e soltou :

- Ha, num é di-menor nao ? Entao vamo la dentro averiguar esse fato!

A moçoila abriu a porta da Saveiro e sumiu em direçao da Barão do Amazonas.

As 7 :30h a Saveiro buzina na porta la de casa. O Heroi queria ir a praia…

Dioeidra

I cdnuolt blveiee taht I cluod aulaclty uesdnatnrd waht I was rdanieg. The phaonmneal pweor of the hmuan mnid, aoccdrnig to a rscheearch at Cmabrigde Uinervtisy, it deosn't mttaer in waht oredr the ltteers in a wrod are, the olny iprmoatnt tihng is taht the frist and lsat ltteer be in the rghit pclae. The rset can be a taotl mses and you can sitll raed it wouthit a porbelm. Tihs is bcuseae the huamn mnid deos not raed ervey lteter by istlef, but the wrod as a wlohe.! Amzanig huh? yaeh and I awlyas tghuhot slpeling was ipmorantt!

terça-feira, maio 02, 2006

Ja dizia Raul Seixas...

Nao confundir a falta de respostas com a ignorancia. Ignorar é a bencao maior. Falta de respostas é saber da existencia e nao saber como lidar, responder ou explicar. Ai sim, é o panico. Como todas as perguntas sem respostas. Porque perguntas sem respostas, todas essas que os filosofos tentam responder, sao crueis e deseperadoras. A igonorancia é o estado sublime de nao chegar nem ao ponto de se fazer perguntas. E se nao ha perguntas, nao tem de haver respostas e tampouco problemas existencias relacionados a elas.
Nao que os ignorantes nao sofram. Sofrem. Sofremos. Mas sao dramas mais mundanos, mais praticos. Nada como se deparar com o vazio de uma vida voltada pro trabalho, em busca de conforto e bem estar material, face a perspectiva da morte certa e irrevogavel. Nada como imaginar o porque das coisas perante um mundo onde os porques sao abundantes assim como os comos, os ondes, e os quandos. Queria ser um obcecado, determinado apaixonado por qualquer coisa que me desse um sentido, solido, direto e inabalavel. Eu sou extremamente abalavel. Pelas ideias dos outros, pelas minhas proprias e pela falta delas. Foi Raul Seixas que disse: “Eh uma pena eu nao ser burro. Talvez eu nao sofresse tanto.”